23 de outubro de 2011

Por que a América Latina tem pouco espaço no noticiário da grande imprensa?

Sites de agências de notícia, como a BBC Brasil, informaram no dia 16 de agosto de 2007 que, na noite anterior, um terremoto de magnitude de 7,9 graus na escala Richter atingiu o Peru e deixou pelo menos 337 mortos e 827 feridos, segundo o Instituto Nacional de Defesa Civil peruano. Noticiaram também que o órgão não havia descartado a ocorrência de novos tremores.



No dia seguinte, o jornal chileno “El Mercurio” focou na potência do terremoto, deixando de lado a morte de 337 pessoas. Um dos destaques da edição desse jornal foi o transporte coletivo. Já o peruano “Correo”, de Chimbote, capital da Província de Santa, abordou o susto que a população local levou com os tremores ocorridos a 33 km de distância. No decorrer do dia 16, novas informações chegaram e esses sites de notícias publicaram várias suites

Enquanto isso, na sala de justiça brasileira, também no dia 16, o Estadão falou da queda do dólar, do Lula e suas especulações sobre crise. A Folha de SP não ficou atrás e, também, falou da queda da bolsa e do dólar, além da emenda que prorrogaria a CPMF.  


A análise deste acontecimento e sua noticiabilidade ou a falta dela em alguns veículos mais importantes da América Latina faz parte da pauta de debates da V Semana de Integração e Resistência, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, realizada em 2008. Com o título de A solidão da América Latina na grande imprensa brasileira, esta discussão levantada pelo professor mestre Alexandre Barbosa apontou questões referentes às classes dominadoras e as dominadas.

De acordo com o professor, “o jornalismo da grande imprensa reproduz a história dos vencedores enquanto o jornalismo alternativo se baseia na história das classes subalternas”. Essa área se tornou um produto capitalista, com o processo de transformação da imprensa em indústria jornalística.

Segundo Alexandre, por meio do rádio, da televisão, do cinema e das revistas, o EUA conseguia, principalmente entre as décadas de 1930 e 1950, difundir no Brasil seu desenvolvimento econômico e cultural. O modelo americano foi, de acordo com ele, seduzindo os brasileiros e cativando cada vez mais a América Latina. Alexandre aponta o uso do personagem brasileiro da Disney, o Zé Carioca, e da cantora e atriz Carmem Miranda, que apesar de ser portuguesa, representou na América do Norte o famoso jeitinho brasileiro de ser por meio do tropicalismo.

O professor afirma que a americanização do jornalismo está presente na rotina da profissão até hoje. Exemplo disso são os jargões técnicos, como teaser, lead, dead line, off, declaração em off, release, press kit, newsletter, etc.   

Segundo ele, a grande imprensa é feita pela elite e para elite, já que ela é proprietária ou financiadora dos “aparelhos ideológicos do país”. Para Alexandre, a cada momento histórico a imprensa assume uma posição, refletida nos meios de comunicação. Já a imprensa alternativa, é a responsável pela recuperação da história dos vencidos e dos excluídos.

Os jornalistas da grande imprensa adotam ''os óculos das empresas jornalísticas em que trabalham", na visão de Alexandre, que também fala sobre o mito da imparcialidade. Para ele, "a fantasia do jornalismo objetivo da grande imprensa disfarça o fato de ser o aparelho ideológico da América Latina Oficial", que só enxerga o mercado polarizado entre EUA e Europa e despreza a América Latina Popular. Essa última só é pauta para a imprensa alternativa, que é acusada de partidarismo, “como se a grande imprensa também não fosse”.



A saída apontada pelo professor é o fortalecimento dos veículos de comunicação dos movimentos sociais e o investimento na formação acadêmica de jornalistas. Eles deverão assumir explicitamente sua ideologia: “falar para e sobre excluídos, realizar reportagens de qualidade, fora da cartilha norte-americana, e ter olhos não só para os demais países latino-americanos como para as periferias do Brasil”. 

Isso possibilitará, de acordo com Alexandre, novas frentes de estudo para estruturar o processo de formação de militantes dos movimentos sociais e jornalistas para desenvolver novas mídias voltadas à América Latina Popular.

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